
Art Basel Miami 2025 | Overview
Entre vendas recordes, novas galerias e a força do digital, Camila Yunes Guarita revisita a Art Basel Miami e seus destaques.
De volta da Art Basel Miami, ainda com a energia da feira pulsando, quero compartilhar algumas leituras. Os leilões que antecedem o evento costumam ser um termômetro preciso do mercado, medindo confiança, apetite e direção. Em 2025, o resultado foi inequívoco: recordes, e muitos.
No leilão da Sotheby’s, realizado no mês passado em sua nova sede em Nova York, Retrato de Elisabeth Lederer, de Gustav Klimt, alcançou 236 milhões de dólares, tornando-se a obra de arte moderna mais valiosa já vendida em leilão. Em Londres, El sueño (La cama), de Frida Kahlo, também atingiu um valor histórico para a artista, com 54,7 milhões de dólares.
Diante de resultados tão expressivos, somados ao bom desempenho de Londres e ao sucesso recente de Paris, a Art Basel Miami iniciou sob a pressão de um circuito que permanece em expansão. Algumas galerias optaram por não participar e parte dos colecionadores decidiu não comparecer, mas, ainda assim, tudo indica que o mercado permaneceu aquecido.

Marc Payot, presidente da Hauser & Wirth,afirmou que as vendas foram 40% maiores não apenas em relação ao início de 2024, mas superiores ao volume registrado pela galeria em toda a semana daquela edição. Uma pintura de George Condo foi adquirida por pouco menos de 4 milhões de dólares, enquanto duas obras de Louise Bourgeois alcançaram 3,2 milhões e 2,5 milhões de dólares, respectivamente.
Entre outras negociações relevantes, a Almine Rech vendeu um Picasso por um valor entre 2,8 e 3 milhões de dólares, além de um trabalho de James Turrell na faixa de 900 mil a 1 milhão. A Pace Gallery comercializou um Sam Gilliam por 1,1 milhão de dólares, e a Lisson vendeu um Anish Kapoor por 500 mil libras.


Embora algumas galerias tenham optado por se ausentar, a edição registrou a entrada de 48 novos expositores, o maior número da história da feira, o que impulsionou uma renovação significativa. Entre eles, a galeria cubana El Apartamento e a ucraniana Voloshyn Gallery, ambas estreando na Art Basel e representando países até então inéditos na programação.


Outra novidade desta edição foi a criação da seção dedicada à arte digital, a Zero 10, inspirada na histórica exposição 0,10 organizada por Kazimir Malevich em Petrogrado no início do século XX, marco das vanguardas. Em sintonia com esse legado, o setor propõe novos parâmetros para a produção digital contemporânea. Entre os destaques, figurou uma instalação de James Turrell apresentada pela Pace Gallery, na qual luz e tempo estruturavam uma experiência imersiva que convertia a percepção do público em matéria artística. A Zero 10 tenta demonstrar que o digital deixou de ocupar um lugar experimental ou periférico e se consolidou como categoria presente no circuito de galerias e colecionadores.
Há também uma expectativa crescente de que a produção digital amplie suas fronteiras e alcance públicos para além dos colecionadores tradicionais, aproximando o setor tecnológico e pessoas que ainda observavam o mercado artístico à distância. Caso isso se concretize, ampliará de maneira significativa o ecossistema.
Soma-se ao panorama, a criação da Pace Di Donna Schrader Galleries. A Pace Gallery anunciou uma parceria com Emmanuel Di Donna, da Di Donna Galleries, com David Schrader, executivo de private sales da Sotheby’s. Dessa colaboração surge uma instituição dedicada exclusivamente ao mercado secundário, com início previsto para 2026 e sede no Upper East Side de Nova York.
Este ano marcou ainda a primeira edição do Art Basel Awards, premiação realizada em parceria com a BOSS para reconhecer artistas e organizações que contribuem para o futuro da cultura contemporânea. Entre os premiados estiveram nomes já consolidados, como Cecilia Vicuña, Nairy Baghramian e Ibrahim Mahama, além de artistas emergentes como Mohammad Alfaraj e Saodat Ismailova, jovens criadores da Arábia Saudita e do Uzbequistão que merecem atenção.


No campo institucional, a RAW Material Company foi reconhecida na categoria Instituições e Candice Hopkins recebeu o prêmio de Curadora, destacando uma trajetória que articula história, arte contemporânea e identidade indígena.
Como ocorre anualmente, a Art Basel Miami transforma a cidade em seu conjunto. Além da feira principal, que reuniu 283 expositores, também acontecem a Untitled, ativa desde 2012, e a Design Miami, que chegou à sua vigésima edição mantendo o foco na inovação do design. Durante essa semana, Miami assume temporariamente uma posição de capital cultural global, ampliando redes e fortalecendo a economia local. No ano passado, por exemplo, registrou mais de 75 mil visitantes hospedados e 547 milhões de dólares em atividade econômica.

A expectativa para os próximos anos em Miami é que as mostras institucionais ampliem sua relevância, incorporando artistas e exposições de maior envergadura, o que tende a atrair um contingente ainda mais significativo de curadores e colecionadores ao longo da semana.
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