35ª Bienal de São Paulo | Entrevista exclusiva com curadores

Com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a 35ª Bienal de São Paulo tem início neste 6 de setembro. À luz do evento mais importante para a Arte no Brasil e na América Latina, entrevistamos o coletivo de curadores para saber um pouco mais sobre o pensamento desenvolvido para a mostra, intitulada “Coreografias do Impossível”, e de que forma eles têm trabalhado em conjunto.

[Kura] A 35ª Bienal de São Paulo partiu do conceito de “coreografia” para explorar as possibilidades de movimento e transformação no mundo contemporâneo. Quais são os principais desafios deste mundo e como eles serão explorados no espaço expositivo?
[Entrevistado] De forma poética e ampliada, compreendemos a coreografia como um conjunto de movimentos que exacerbam os limites normativos e estabelecidos, gerando continuamente suas próprias relações, tempos e espaços. Mas também partindo do interesse em compreender como o conceito de coreografia tem sido ampliado, por meio de sua capacidade de incorporar, refletir e questionar o contexto social em que vivemos. O impossível, por sua vez, refere-se às realidades políticas, legais, econômicas e sociais nas quais essas práticas artísticas e sociais da 35ª Bienal estão inseridas, mas também à forma como essas práticas encontram alternativas para contornar os efeitos desses mesmos contextos.
Obra de Castiel Vitorino Brasileiro (Foto: Cortesia Bienal)
[Kura] Assim como nas edições de 1989, 2010 e 2014, esta edição do evento não conta com a figura de um curador-chefe. Como vocês, enquanto equipe curatorial, pensam na edição de forma horizontal e já exercitando a coreografia que irão apresentar entre setembro e dezembro, na maior exposição de arte contemporânea do hemisfério sul?
Como equipe curatorial, adotamos uma abordagem horizontal, em que cada membro contribui com suas perspectivas individuais, repertórios e experiências. Trabalhamos em conjunto, discutindo e compartilhando ideias para criar uma coreografia coesa que engendre a 35a Bienal. A colaboração e a troca constante de conhecimento entre nós são fundamentais para a construção de uma exposição significativa. Cada membro da equipe curatorial traz consigo um repertório e uma perspectiva. Atuamos de forma complementar, em que a diferença se torna a força motriz de debate, aprendizado e criação. Nossas perspectivas individuais se fundem em um processo colaborativo, em que debatemos, trocamos ideias e tomamos decisões conjuntas. Essa pluralidade de visões é o que irá construir as coreografias de narrativas e de percursos que o público poderá conferir quando no contato com a exposição.
[Kura] Intitulada "Coreografias do Impossível", a 35a Bienal de São Paulo vai apresentar produções de artistas de diferentes partes do mundo. Quais são os principais desafios em pensar o time de artistas e coletivos que irá integrar a mostra?
Quando falamos em "impossível" e coreografias do impossível, estamos nos referindo a políticas do movimento e movimentos políticos que estão entrelaçados com produções artísticas. Nos interessa pensar como as formas expressivas e estéticas desses artistas são impactadas e transformadas pelas próprias impossibilidades do mundo em que vivemos. Neste sentido, um dos principais desafios passa por pensar uma política e uma poética de exibição que mantenha a integridade destes contextos impossíveis de modo a não reencenar o espetáculo da sujeição.
Obra de Luana Vitra (Foto: Everton Ballardin/Cortesia Bienal)
[Kura] Como a arte contemporânea incentiva e desperta os debates sobre realidades políticas, econômicas e sociais nas quais está inserida? Como a coreografia é capaz de representar liberdade e ruptura, ao mesmo tempo?
A arte tem a capacidade de questionar as estruturas estabelecidas ao produzir mais perguntas do que respostas. É esta dinâmica de aprendizado coletivo que nos interessa. Os artistas presentes nesta Bienal têm diferentes relações com a ideia do impossível. A ideia é apresentar e tensionar a questão sobre como múltiplas práticas artísticas lidam com contextos impossíveis e encontram maneiras de enfrentá-los, contorná-los, atravessá-los e escapar deles, através dos modos de expressão e de um exercício de linguagem.   [Kura] A Bienal de São Paulo é, historicamente, um dos principais eventos de arte do mundo. Qual a importância de usar deste espaço para abordar a diáspora e a ancestralidade a partir do conceito e tema do evento? A diáspora enquanto contexto e a ancestralidade enquanto cosmologia e ferramenta ganham importância por permear a história e a cultura de diferentes regiões do mundo. Ao abordá-los na Bienal de São Paulo, afirmamos que estas são relações incontornáveis ao debate contemporâneo já que ambos são conceitos fundamentais quando pensamos como as práticas artísticas e sociais criam estratégias que buscam lidar com os contextos impossíveis.

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